TRADICIONALIS

Este Blog pretende ser um espaço onde se trocam impressões e ideias sobre o património cultural português e qual a melhor forma de o preservar. A música e os instrumentos musicais, em especial os cordofones, terão aqui um espaço privilegiado.

25 janeiro 2008

PINTURAS CANTADAS NO MNE

Amanhã, Sábado dia 26 de Janeiro, reabre no Museu Nacional de Etnologia a exposição Pinturas Cantadas: arte e performance das mulheres de Naya

04 janeiro 2008

RECICLAR, REUTILIZAR E REDUZIR, PARTE 2

MÚSICA E RESÍDUOS

A questão dos resíduos e o seu reaproveitamento para fins musicais não é assunto novo. Numa obra lançada em 1999 em parceria com o Ministério do Ambiente e o Instituto dos Resíduos, Um olhar Musical pelos Resíduos, José Lúcio Ribeiro de Almeida, um estudioso e profundo conhecedor dos cordofones portugueses, fazia já uma interessante abordagem a este tema. Nesta obra o autor não só coloca em prática uma série de projectos, virados para os mais jovens, como desafia a imaginação para a construção de outros instrumentos.

NOVOS INSTRUMENTOS; NOVAS PERSPECTIVAS

A separação do lixo produzido e o seu depósito nos locais próprios é uma primeira etapa elementar para contribuir para uma melhoria do meio ambiente. Mas, porque não fazer música com aquilo que normalmente se deita fora?

Construir instrumentos de percussão com embalagens vazias pode ser um primeiro passo. Talvez o mais simples. Só para dar dois exemplos, com o rolo de cartão interior do papel higiénico e um balão pode-se construir um pequeno tambor, de uma lata de refrigerante com alguma areia no interior obtém-se uma maraca.

A abordagem que tentei dar foi ligeiramente diferente. Sendo um apaixonado pelos mais diversos tipos de cordofones optei inicialmente pela construção de instrumentos de corda diferentes. Em 1980 construí, por brincadeira, um primeiro protótipo de uma guitarra de escala lisa, (fretless), de cordas de Nylon. Fiquei, durante algum tempo, afastado destas lides da construção por falta de condições logísticas e foi só depois do ano 2000 que viria a retomar esse protótipo que seria desenvolvido numa guitarra de corpo sólido feito de uma peça inteira em pinho. Mas a madeira é o material mais nobre e, por consequência, mais comum na construção de instrumentos de corda. Foi então que resolvi utilizar novos materiais como o alumínio ou o pvc.

Tenho que confessar que desta fase o meu instrumento preferido é o baixo eléctrico em alumínio. A ideia para este cordofone apareceu quando conversava com um amigo, baixista, que se queixava do excesso de peso dos baixos comuns. Este instrumento foi construído com perfis de alumínio e a junção das diversas peças feita através de parafusos e roscas abertas nos perfis. Para a parte eléctrica utilizei um velho pick-up de baixo que me deram em tempos e o controlo do volume e tonalidade é feito através de dois potenciómetros de 470K. Uma particularidade deste baixo é o facto de possuir duas réguas (escalas), as únicas peças de madeira, uma lisa (fretless) e uma trasteada que são amovíveis permitindo assim uma utilização mais versátil de um instrumento que pesa apenas 1,7 Kg. Aproveitando o mesmo tipo de materiais o instrumento seguinte foi uma slide guitar.

Os músicos sentem, por vezes, a falta de instrumentos que possuam determinadas características. Isto também aconteceu comigo e foi assim que nasceu o cavaquinho eléctrico com ‘cutaway’, a guitarra eléctrica com cordas de nylon com um braço de 24 pontos e o baixo electroacústico com abertura no tampo e no fundo para permitir uma dupla captação, na frente e na parte posterior do instrumento, para obter um efeito estéreo.

A procura, por parte dos grandes fabricantes de cordofones, de materiais alternativos para a construção de instrumentos há muito que é uma realidade. O epoxy e a fibra de carbono têm sido algumas das alternativas à utilização da madeira.

As embalagens são objectos feitos dos mais diversos materiais que entram em nossas casas todos os dias e que são, normalmente, deitadas fora sem que possam ter qualquer utilidade para além da sua provável futura reciclagem. Daí surgiu a ideia: se uma das parte fundamentais de qualquer cordofone é a sua caixa de ressonância, porque não utilizar algumas dessas embalagens como elemento ressoador?

É necessário, e essencial, um certo rigor na construção da escala de forma a permitir a execução e correcta afinação do instrumento mas a caixa pode ter os mais diversos formatos e ser feita dos mais variados materiais. O propósito visava a construção de instrumentos que permitissem a sua execução e produção de música.

Os nomes que resolvi atribuir aos instrumentos estão, de alguma forma, relacionados com o material base utilizado na construção.

03 janeiro 2008

RECICLAR, REUTILIZAR E REDUZIR, PARTE 1

No início de um novo ano resolvi, finalmente, começar a mostrar alguns dos instrumentos que tenho construído.
No passado verão de 2006, por altura da Feira Internacional de Artesanato, o Instituto do Emprego e Formação Profissional publicou uma excelente obra intitulada AS IDADES DO SOM na qual me orgulho de ter dado o meu contributo.
Durante os próximos dias vou colocar neste Blog um artigo intitulado "Reciclar, Reutilizar e Reduzir Resíduos" que foi publicado na referida obra.

RECICLAR, REUTILIZAR E REDUZIR RESÍDUOS

REUTILIZAR OBJECTOS PARA FAZER MÚSICA


O consumismo desenfreado, característico da nossa sociedade, tem levado a um aumento óbvio da quantidade de detritos. A sensibilização e orientação ambiental é essencial para perspectivar um futuro melhor e preservar o planeta. São três os princípios básicos propostos: Reciclar, Reutilizar e Reduzir.

Reduzir a aquisição do que é supérfluo, reutilizar o que pode ser reutilizado e, por último, reciclar de forma a retornar o objecto ao ciclo de produção do qual saiu.

Muitas vezes não temos a noção do tempo que demora a decomposição de alguns objectos tão comuns no nosso quotidiano.

Papel.....................................2 a 5 meses
Casca de Laranja......................6 meses
Embalagem de Cartão (leite)......5 anos
Ponta de cigarro......................10-12 anos
Saco de plástico......................10-12 anos
Garrafa de plástico...................50-80 anos
Fralda....................................75 anos
Lata......................................100 anos
Lata de cerveja ou refrigerante..200-500 anos
Garrafa de vidro.......................> 1000 anos

Se tomarmos como exemplo prático o aumento populacional e a aquisição cada vez maior de produtos embalados é fácil discernir que, se não forem tomadas algumas medidas no que diz respeito à redução, reutilização e reciclagem de alguns objectos, a situação irá tornar-se incomportável do ponto de vista ambiental.

A capacidade de valorizar o que não presta é uma vertente que convém explorar. A reutilização fora do âmbito do propósito inicial do objecto é aquela que só tem limite na imaginação de cada um de nós.