TRADICIONALIS

Este Blog pretende ser um espaço onde se trocam impressões e ideias sobre o património cultural português e qual a melhor forma de o preservar. A música e os instrumentos musicais, em especial os cordofones, terão aqui um espaço privilegiado.

25 março 2006

MUSICA DESENHADA

Antecedida pelo concerto do Grupo Coral da Sociedade Recreativa Musical 1.º de Agosto Santa Iriense com direcção do Maestro Gutemberg Ralha, realizou-se, no Museu da Música a visita guiada à exposição Desenhar a Música. Tivemos, assim, a oportunidade de pela voz de José Garcês, o autor das pranchas, ouvir a explicação do conteúdo e das motivações que levaram à execução destes desenhos. Este projecto surgiu em 1981 quando José Garcês foi convidado pelo director do Museu do Mosteiro da Batalha a ilustrar um episódio da História de Portugal ocorrido em 1428. Com o guião de Sérgio Guimarães de Andrade, director do Museu, e a colaboração de Pedro Caldeira Cabral, Mestre Garcês executou 30 pranchas, das quais cerca de metade têm estado expostas no Museu da Musica, onde a historia e os instrumentos musicais se cruzam. Quem não pôde ver a exposição tem ainda a possibilidade de comprar o catálogo.

20 março 2006

DESENHAR A MÚSICA

Quem gosta de banda desenhada e música não deve deixar de visitar o Museu da Música até ao próximo Sábado, 25 de Março, data em que a exposição “Desenhar a Música” se despede. Será a última oportunidade para apreciar os desenhos originais de José Garcês, um dos mais conceituados autores portugueses de bd com um importantíssimo percurso de mais de 50 anos.Para encerrar com chave de ouro, o próprio José Garcês acompanhará os visitantes no percurso da exposição no dia 25, pelas 17:00 h. Pela voz do autor, conheceremos o que esteve na origem das pranchas expostas, como ganharam forma e que questões se levantaram relativamente ao desenho de instrumentos musicais acerca dos quais existem poucas certezas.Será a altura certa para abordar José Garcês e satisfazer a sua curiosidade. Se ainda não visitou a exposição, não deixe de aparecer.

SINGING PICTURES

Embora seja quase em cima do acontecimento, cá vai a notícia. Amanhã dia 21 de Março, às 18 horas, no auditório B 2.03 do ISCTE (Av.das Forças Armadas em Lisboa), vamos ter a oportunidade de assistir ao lançamento europeu do filme de Lina Fruzzetti e Akos Ostor, SINGING PICTURES – WOMEN PAINTERS OF NAYA.Sobre o Filme:
“Durante gerações as comunidades Patua de Bengala Ocidental, Índia, pintaram e cantaram histórias representadas em scrolls. Recentemen- te um grupo de mulheres da aldeia de Naya, perto de Calcutá, formou um grupo de colaboração de pintores de scrolls. O filme acompanha as suas vidas quotidianas enquanto pintam, cantam, cozinham, tratam dos filhos e se encontram na cooperativa. Discutem problemas e recompensas da sua arte e falam livremente sobre as mudanças sociais, religiosas e políticas em curso na aldeia e no mundo exterior. A sua sabedoria, criatividade e sentido de humor ilumina as vidas à volta delas e respectivas dificuldades.”

08 março 2006

ESTRUTURALISMO, ESTRUTURA, MÚSICA, SISTEMA

O estruturalismo é um movimento intelectual que baseia a sua análise na redução dos materiais a modelos que são referidos como estruturas. A melhor forma de o abordar será, talvez, através da tentativa de compreender o conceito de estrutura dentro do seu ponto de vista teórico. As estruturas que servem de base ao estruturalismo não são manifestações concretas da realidade, mas sim modelos cognitivos da realidade. Assim, a proposta apresentada por Lévi-Strauss, propõe que todas as culturas podem entender o universo que os rodeia através destes modelos. “Nous pensons (...) que pour méritier le nom de strucutre, des modèles doivent exclusivement satisfaire à quatre conditions. En primier lieu, une structure offre un caractère de système. Elle consiste en éléments teles qu’une modification quelconque de l’un d’eux entraîne une modification de tous les autres. En second lieu, tout modèle appartient à un groupe de transformations dont chacune correspond à un modéle de même famille, si bien que l’ensamble de ces transformations constitue un groupe de modèles. Troisiènement, les propriétés indiquées ci-dessus permettent de prévoir de quelle façon réagira le modèle en cas de modification d’un de ses élèments. Enfin, le modèle doit être construit de telle façon que son fonctionnement puisse rendre compte de tous les faits observés.” (Lévi-Strauss, 1985:332) Assim, o estruturalismo, como modelo analítico, assume a universalidade do processo do pensamento de forma a explicar a estrutura ou o significado subjacente que existe no fenómeno cultural.

Tal como num edifício em que, para maior sustentabilidade, é dirigida uma enorme importância na construção da sua estrutura, e por outro lado, através da análise de uma estrutura podemos compreender o objectivo do arquitecto, também, para Lévi-Strauss, a análise estrutural permite a compreensão do universo de uma cultura. As estruturas referem-se as modelos mentais ou de pensamento construídos através de uma realidade concreta. Seguindo esta abordagem o estruturalismo é uma tentativa de construir modelos que podem ajudar a entender a realidade.

Ao escrever uma peça musical o compositor planeia o seu trabalho detalhadamente tal como um arquitecto quando projecta um edifício. Em ambos os casos, o produto final deve possuir continuidade, equilíbrio e forma. É, contudo, na questão do equilíbrio que surgem diferenças, o edifício pressupõe um equilíbrio no espaço enquanto a música está voltada para o equilíbrio no tempo. A maneira pela qual o compositor atinge esse equilíbrio, ao dispor e colocar em ordem as suas ideias musicais, ou seja, a maneira como o compositor projecta e constrói a sua música é descrita na música pela palavra forma. Assim sendo a forma de uma peça musical é, no fim de contas a sua estrutura básica. Ao preencher essa estrutura com uma variedade imensa de materiais musicais o compositor transforma-a naquilo que é, a seu ver o produto final agradável mas que, contudo, não deixa de ser um sistema complexo.

“A etnomusicologia era um ramo da antiga musicologia comparada, que comparava o património musical não europeu com o ocidental-europeu, em parte devido à convicção da superioridade do segundo (herdada do Iluminismo), e em parte também devido à ausência de terminologia apropriada para caracterizar as manifestações musicais dos povos desconhecidos”. (Michaels, 2001:13). “Desde o final do século XVIII que existem teorias sobre a origem da música que a associam à linguagem (Herder), às vozes dos animais, nomeadamente ao canto dos pássaros (Darwin), aos chamamentos sem palavras (Stumpf), às interjeições emocionais (Spencer), etc .” (Michaels, 2001:159)

Lévi-Strauss proeminente estruturalista abria, em 1958, na Anthropologie Structurale (ver citação na pag.1), o caminho para uma abordagem diferente da música. Talvez porque como diz “Desde criança que tenho sonhado ser compositor ou, pelo menos, um chefe de orquestra. (...) Quando se me deparou o facto de que a música e a mitologia eram, se assim se pode dizer, duas irmãs geradas pela linguagem que seguiram caminhos diferentes, escolhendo cada uma a sua direcção (...) pensei que se não era capaz de compor com os sons, talvez o pudesse fazer com os significados.” (Lévi-Strauss, 1981:76).

BIBLIOGRAFIA

Lévi-Strauss, Claude, 1958, Anthropologie Structurale, Plon, Paris, 1985

Lévi-Strauss, 1978, Mito e Significado, Edições 70, Lisboa, 1981

Michales, Ulrich, 2001, Atlas de Música Vol.I , Gradiva , Lisboa, 2003